Edição Especial: Por Dr. Marcello Henrique Alves de Souza

 

A sociedade brasileira enfrenta um crescente desafio com a disseminação de plataformas de apostas, como as célebres “bets” e jogos eletrônicos que prometem ganhos rápidos, frequentemente disfarçados sob a égide de diversão e entretenimento. Este fenômeno, impulsionado pela acessibilidade digital, tem impactado tanto jovens quanto adultos, instaurando uma perigosa cultura de “tudo ou nada”, onde o risco é elevado e a educação financeira é praticamente inexistente.

 

O problema se agrava ao observar que até mesmo recursos destinados à subsistência, como os do programa Bolsa Família, têm sido direcionados para apostas. Em recente manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Advocacia-Geral da União (AGU) reconheceu que o governo carece de mecanismos técnicos adequados para impedir que beneficiários utilizem os valores do Bolsa Família em plataformas de apostas. Tal cenário evidencia não apenas uma fragilidade no controle, mas também uma carência de políticas educacionais voltadas à conscientização financeira.

 

Quando as Apostas Fogem do Controle

 

As apostas, inicialmente percebidas como uma forma de entretenimento, podem resultar em perdas substanciais quando escapam ao controle. Recentemente, o trágico caso de um jovem que cometeu suicídio após perder vultosas quantias no denominado “jogo do tigrinho” trouxe à tona os riscos associados a essa prática. Esses episódios evidenciam que, além das consequências financeiras, há impactos emocionais e sociais que podem comprometer o bem-estar das famílias.

 

Relatos de famílias endividadas, tensões domésticas e até mesmo a perda de bens essenciais devido à falta de controle sobre os gastos com apostas são alarmantes. Essas ocorrências demonstram a necessidade de alertar a população sobre os perigos associados ao hábito de apostar sem planejamento ou limites bem delineados, especialmente em um cenário onde a educação financeira ainda se apresenta como uma lacuna a ser preenchida.

 

 Educação Financeira como Solução Indispensável

 

A introdução da educação financeira no ambiente escolar é imperativa para transformar a mentalidade das novas gerações. É essencial preparar jovens que compreendam o valor do dinheiro, saibam planejar e estejam cientes dos riscos das apostas e dos prejuízos que estas podem acarretar às famílias. Esta formação é um passo fundamental para reduzir a vulnerabilidade social e prevenir comportamentos compulsivos que desestruturam lares e comprometem a estabilidade financeira.

 

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o número de endividados no Brasil cresce anualmente, afetando tanto adultos quanto jovens. Esse panorama evidencia a necessidade de uma educação financeira que transcenda o mero ato de economizar, ensinando planejamento, análise crítica e decisões conscientes sobre o uso do dinheiro.

 

Cabe aos entes públicos, especialmente às secretarias de educação, implementar programas eficazes de educação financeira nas escolas. Parcerias com instituições financeiras, ONGs e especialistas podem capacitar educadores e desenvolver materiais didáticos que abordem desde conceitos básicos, como poupança e orçamento, até temas mais complexos, como investimentos e os riscos associados ao mercado de apostas.

 

Este é um tema que deve ocupar um lugar central na agenda educacional do país. A formação de cidadãos conscientes e financeiramente responsáveis é fundamental para romper o ciclo de pobreza e vulnerabilidade que assola grande parte da população. O combate à cultura de apostas e seus prejuízos começa pela conscientização, mas só será efetivo se for acompanhado por uma sólida base educacional.

 

O momento exige medidas que transcendem a fiscalização e controle, promovendo valores éticos e responsabilidade financeira. Somente com essas iniciativas será possível construir uma sociedade menos vulnerável às armadilhas de promessas fáceis, valorizando o trabalho, o planejamento e o investimento consciente como pilares para um futuro sustentável.

 

Quem é Dr. Marcello Henrique Alves de Souza?

É advogado militante no Direito Público, assessor e estrategista político, pós-graduado em Educação, Diversidade, Inclusão Social e outras áreas, Diretor Jurídico da Associação Comercial de Valparaíso de Goiás (ACIVAL) e membro de comissões da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).